Atividades culturais e diversas vivências marcam encontro dos povos indígenas no Cabuçu
Soberana news

Uma série de atividades culturais promovidas por diferentes etnias marcou a 18ª edição do Encontro dos Povos Indígenas, que aconteceu de 15 a 17 de agosto na Aldeia Multiétnica Filhos Desta Terra, no Cabuçu. A iniciativa anual é articulada e organizada pela própria comunidade que vive na cidade com o apoio da Subsecretaria da Igualdade Racial de Guarulhos. Teve sua primeira edição em 2008 como reivindicação dos indígenas de contexto urbano para serem assim reconhecidos pelo poder público e garantir direitos e políticas específicas no âmbito de saúde, educação e assistência social, incluindo a necessidade de uma terra em que as famílias pudessem exercer suas práticas culturais, tradições e religiosidade.
O evento deste ano promoveu uma série de oficinas culturais, trilha ecológica até a nascente do rio Cabuçu, sessões de pintura corporal, rodas de canto e de dança, venda de artesanatos e a exibição do filme Nhandeci – Mãe Terra, além de oferecer comidas típicas indígenas.
Mais do que oferecer atividades culturais, o encontro anual solidifica a presença dos povos originários na cidade, uma população que conta atualmente com mais de 1.600 indígenas, de acordo com Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre aqueles que vivem em contexto urbano e os que moram na aldeia. “Antes de tudo, o encontro representa um ato político, já que a resistência dos povos indígenas é contínua e histórica”, comentou Gilberto Awá na abertura oficial do Agosto Indígena, que aconteceu na noite de sexta-feira (15) na Universidade de Guarulhos (UNG).
Guarulhos, nome de origem indígena, tem a segunda maior população de povos originários do Estado, atrás apenas da Capital – que contabiliza cerca de 12 mil habitantes, sendo que aproximadamente 3 mil vivem em aldeias demarcadas nos bairros Jaraguá e Parelheiros e os demais em contexto urbano.
“Os povos originários e os africanos construíram a história deste país e não podemos mais aceitar, em pleno século 21, que eles sejam tratados de forma preconceituosa. Os indígenas têm uma série de conhecimentos ancestrais de saúde, por exemplo, e, portanto, a condição de influenciar positivamente toda a sociedade. A nossa pasta reforça o compromisso de lutar pela causa nos próximos anos”, afirmou Jorge Caniba Batista dos Santos, subsecretário da Igualdade Racial de Guarulhos.
Em 2008 começou o já citado processo de articulação e organização dos indígenas presentes no contexto urbano de Guarulhos para a garantia de direitos, como um atendimento diferenciado em saúde e um espaço no qual as famílias pudessem morar da mesma forma como viviam em suas aldeias de origem, promovendo práticas culturais e espirituais. Já em outubro de 2017 eles retomaram oficialmente a área no Cabuçu (anteriormente degradada) previamente acordada com o poder público e a nomearam Aldeia Multiétnica Filhos Desta Terra. Atualmente a Prefeitura tem promovido uma série de ações para a melhoria das condições dos povos originários de Guarulhos, como a 1ª Feira de Culturas Indígenas, que aconteceu no calçadão da rua Dom Pedro II (Centro) entre os dias 13 e 15 de agosto.
“Não é fácil ser indígena no Brasil. Somos, indiscutivelmente, uma potência de resistência, mas vivemos hoje em um mundo capitalista, no qual é necessário trabalhar e pagar as contas, então iniciativas como essa (a feira) são importantes. Não existe política pública sem orçamento, e nós precisamos fazer parte cada vez mais desse orçamento, nas três esferas de governo (municipal, estadual e federal). Nós precisamos estar no calendário de eventos da cidade e do país da mesma forma que o Carnaval, por exemplo. Os povos originários produzem um conhecimento fundamental para a sociedade e, desta forma, é essencial que ela conheça a nossa realidade”, disse Vanuza Kaimbé, a primeira indígena a ser vacinada contra a covid-19 no Brasil.
Por sua vez, Alex Kaimbé lembrou que sua etnia habita Guarulhos desde a década de 1940 e considera ser indispensável que todos os indígenas de Guarulhos sejam vistos e representados na maioria dos setores da sociedade. “Nós sabemos fazer políticas públicas, temos conhecimento suficiente para participar de qualquer ramo da economia. Cientistas vão a aldeias, por exemplo, para aprender sobre preservação ambiental e saúde”, afirma, referindo-se ao fato de que os saberes ancestrais dos indígenas abrangem uma visão holística, que integra aspectos físicos, espirituais e ambientais com base em práticas tradicionais e conhecimentos sobre plantas medicinais.
Atualmente Guarulhos tem como referência para os cuidados médicos dos indígenas as Unidades Básicas de Saúde (UBS) Cabuçu e Soberana, que buscam atendê-los considerando suas particularidades culturais. A Prefeitura conduz os trâmites para receber R$ 800 mil, obtidos por meio de emenda parlamentar, para a construção de uma estrutura de saúde para o atendimento dos indígenas, possivelmente dentro da própria aldeia multiétnica.
Imagens: Divulgação/PMG
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